Volante do São Paulo, Damián Bobadilla prestou depoimento à Polícia Civil na tarde desta quarta-feira (11), na capital paulista, após ter sido acusado pelo lateral Miguel Ángel Navarro, do Talleres, de xenofobia.
O caso aconteceu na vitória do Tricolor por 2 a 1 para o time argentino no dia 27 de maio, no Morumbis, pela CONMEBOL Libertadores. Na ocasião, o jogador são-paulino teria chamado o adversário de ''venezuelano morto de fome''. Versão essa que foi negada pelo meia.
O depoimento de Bobadilla durou cerca de uma hora. O atleta deixou deixou a delegacia acompanhado do advogado Pedro Iokoi.
''O que aconteceu foi o que acontece em todos os jogos. Todos os jogos. Em todos existe discussões, ofensas. E o próprio Navarro me disse que não queria que as coisas acontecessem daquela forma, com a repercussão que foi gerada. Ele também me pediu desculpas porque também me ofendeu, e ele entendeu que eu não tive intenção alguma em ofender suas origens'' disse o meia ao Ge.
''Ele me provocou primeiro. Disse 'Boludo, hijo de p...'. E eu respondi 'venezuelano de m...', e não de fome como disseram'', completou Bobadilla.
À ESPN, Rodrigo Corrêa, delegado responsável pelo caso, deu detalhes sobre o depoimento de Bobadilla. O inquérito deve ficar pronto em 30 dias.
''Ele foi intimado e hoje compareceu com o advogado. A gente tem a convicção que os elementos de autoria do crime realmente recaem sobre ele e ele foi indiciado hoje pelo crime de injúria racial. Agora a gente está na fase final da investigação. Concluído o inquérito, a gente encaminha para o Poder Judiciário e Ministério Público. O Promotor toma ciência de tudo o que foi apurado e vai adotar as medidas pertinentes em âmbito de ação penal'', afirmou.
Relembre o caso 4h5t6o
Durante a partida, após o gol de Luciano que deu a vitória ao São Paulo por 2 a 1, já próximo dos 40 minutos do segundo tempo, houve uma confusão em campo. Miguel Ángel Navarro e Bobadilla discutiram. O jogador do Talleres chorou e ameaçou deixar o gramado.
Ao fim do confronto, à ESPN, Navarro disse que se sentiu ofendido com algo dito por Bobadilla, mas não entrou em detalhes.
"Não quero falar disso (discussão), são coisas que ficam por aqui, ele (Bobadilla) sabe o que disse. Não quero falar de nada, quero ir para casa. Sim (foi com o Bobadilla), ele sabe o que disse. Sim (me senti ofendido)", afirmou.
De acordo com apuração do repórter Eduardo Affonso, da ESPN, Bobadilla teria falado "venezuelano morto de fome" para Navarro durante a discussão. Ainda no estádio, Navarro confirmou a ofensa e denunciou o ocorrido a policiais, que foram até o vestiário do São Paulo, mas não encontraram Bobadilla, que já havia ido embora.
Nas redes sociais, o lateral do Talleres publicou o seguinte texto:
"Quisera eu poder ter nas minhas mãos a solução para a fome que vive meu país, espero que Deus me dê abundância para poder ajudar. Não creio que se possa fazer muito sobre a pobreza mental. Nunca me envergonharei das minhas raízes, irei até as últimas consequências frente ao ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil pelas mãos de Damián Bobadilla. No futebol não há espaço para discursos de ódio".
O São Paulo, por sua vez, também se posicionou sobre o caso por meio da seguinte nota oficial:
"O São Paulo Futebol Clube, por meio desta nota oficial, reafirma seu compromisso com os princípios de respeito, igualdade e inclusão, pilares fundamentais que norteiam suas atividades esportivas e institucionais.
Em face dos acontecimentos ocorridos durante a partida contra o Club Atlético Talleres, válida pela CONMEBOL Libertadores, o Clube informa que está acompanhando atentamente a apuração dos fatos pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com as investigações em curso.
O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma.
O Clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente esportivo pautado pelo respeito mútuo e pela dignidade humana.
Em relação ao nosso atleta Bobadilla, que, ao longo de sua carreira, não apresentou histórico de conduta disciplinar negativa - ao contrário, sempre pautou sua trajetória pelo profissionalismo - entendemos ser fundamental que o Clube ofereça e institucional. O Clube providenciará que ele seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance."